"Antes da Tempestade" FanFic [PT]

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Anos atrás, em um vasto pedaço de terra banhado pelas ondas do mar, afligido por uma forte nevasca ao norte e poderosas tempestades de areia ao sul…
Andem logo, seus vermes! E aproveitem seu último dia… pois amanhã vocês serão um belo exemplo para todo o novo reino que estaremos criando!
Um cavaleiro com pesadas armaduras negras e vermelhas, segurando uma alabarda escoltava três prisioneiros vestidos com roupas sujas e rasgadas, acorrentados por pesadas algemas de ferro nas mãos e nos pés. Junto a ele, outros cinco cavaleiros impediam-nos de fugir - ou de qualquer pessoa chegar perto.
Eu não pretendo ver esse seu novo reino. Tellor, seu maldito rato!
Uma prisioneira, chamada Rose, cuspiu na armadura vermelha reluzente. Ela possuía longos e encaracolados cabelos negros. Andava um pouco torta e estava extremamente magra, devido aos vários dias de confinamento na prisão.
Os outros dois prisioneiros olharam calados e de cabeça baixa, já cansados e enfraquecidos pela falta de comida e sono - além de uma certa tortura - na qual foram submetidos nos últimos dias.
- Eu vou deixar essa passar, mocinha… mas só porque amanhã é seu último dia e não vou arriscar estragar a festa de ninguém…
Tellor limpou o cuspe de sua reluzente armadura, enquanto os três prisioneiros passavam pela cidade. Mas não era uma volta qualquer. Eles não estavam sendo apenas transportados. Estavam sendo exibidos… como um troféu.
Atrás deles, uma grande multidão os observava. Homens, mulheres, crianças e idosos. Alguns os olhavam com pena, outros com tristeza. Muitos nem tinham coragem sequer de olhá-los nos olhos e permaneceram de cabeça baixa.
- Olhem bem para eles! Eles são uns malditos traidores! Observem-os e digam o que eles são!
Mas a multidão não era composta apenas de aldeões. Muitos soldados estavam segurando alabardas no meio da multidão de aldeões desarmados.
- Gritem para eles o que eles são, ou então nós consideraremos todos vocês tão traidores quanto eles! - gritou Tellor
- Está tudo bem. Chamem-nos de traidores, caso contrário os soldados não pensarão duas vezes antes de matá-los. E eu jamais ia querer o mal para o meu povo.
Um dos prisioneiros, chamado Hugo, falou. Estava um tanto mais magro, mas ainda conservava boa parte de sua musculatura - apesar da idade e da privação de alimentos advindos do cárcere.
Alguns aldeões tentaram chamá-los de traidores, mas eles não conseguiam. Abriam suas bocas, mas não conseguiam xingá-los. Não depois de tudo o que eles haviam feito pelo reino. E mesmo com os soldados olhando feio para eles…
Isto porém, irritou profundamente Tellor, que parecia estar perdendo a compostura e dava claros sinais de que daria ordens aos seus soldados muito em breve.
Os prisioneiros perceberam isso, e era hora de interferir. Ou haveria um banho de sangue em meio à praça pública. E desde a queda do antigo rei, não havia mais misericórdia, seja para mulheres, idosos ou crianças.
- Vocês, que farão parte desse novo reino, devem ser fortes! Mesmo que não estejamos mais com vocês, cada um aqui presente deve encontrar força! Isso não irá acabar assim, tenham certeza!
O terceiro prisioneiro, chamado Resskaell, se moveu os poucos centímetros que pôde e gritou o quão alto ainda tinha forças para fazê-lo. Ele era alto e forte, com cicatrizes no rosto e espalhadas pela sua densa musculatura - esta ainda coberta por sangue fresco, devida à sua última sessão de tortura.
Inspirados pelas suas palavras, a multidão começou a xingá-los - enquanto lágrimas escorriam de suas faces. E muitos não tinham força sequer para olhar para eles - ou mesmo ficar em pé…
- Se acham espertinhos, não é? Vamos ver se vocês vão se achar tão espertinhos amanhã… e quantas semanas - ou mesmo dias - esses aldeões idiotas vão demorar para esquecê-los…
Tellor ficou extremamente contrariado dos gritos ofensivos dos aldeões serem tão fracos… e estarem misturados a choro, lágrimas e ranger de dentes. Mas decidiu apenas devolver os prisioneiros à prisão. Afinal, o grande dia deles seria apenas amanhã…
Saindo da praça pública, com diversas casas de modesta arquitetura, eles se dirigiram à prisão.
Úmida, fétida e bastante ampla. Mas praticamente vazia. Os outros presos haviam sido executados nos dias anteriores - e eles seriam os últimos. O prato principal entre todos os desafetos do novo governante.
- Aproveitem e tenham uma boa noite de sono… pois será a última!
Os cavaleiros jogaram os três em uma longa e espaçosa cela, visto que todas as outras estavam imundas e já habitadas por ratos e baratas, isso sem contar o sangue. E como eles estavam algemados, suas vidas deveriam ser preservadas - ao menos até o dia de amanhã.
Os guardas trancaram a cela na qual se encontraram, e além desta outra grande e maciça porta de ferro sólido, que ligava ao andar superior - e a única saída.
Havia também uma pequena janela que ligava á superfície pela qual passava a luz do sol… mas esta era um pouco mais alta, e era impossível qualquer pessoa passar por ela. Acima dela, quatro guardas bem armados faziam a vigília, e a única coisa que se podia ver do lado interno era uma árvore de tamanho colossal. O resto da cela era feita de rocha pura.
Os guardas trancaram a cela e a porta de ferro, enquanto os três foram deixados a sós - após muitos dias de cárcere.
- Como chegou a esse ponto? - perguntou Rose
- Irônico, não é? Já sobrevivemos à uma grande guerra defendendo nosso reino dos invasores… depois uma guerra civil… depois uma grande guerra contra as feras… éramos grandes heróis protetores desta nação… e agora somos meros traidores… - falou Hugo
- Maldita política! Lutamos com o ímpeto de nossa alma e jamais tememos a morte… até aquele maldito rato dar um golpe de estado e matar nosso rei… eu enfrentarei a morte sem medo, mas o que será do reino que tanto lutamos para defender? - falou Resskaell
- Sim, meu amigo. O primeiro ministro deu um golpe de estado. E pela sua ordem, apenas seu exército pode ter armas e gemas. O resto da população estará completamente indefeso em suas garras… até mesmo nós, que sabemos muito bem como lutar, como o faremos sem armas e nem gemas? - falou Hugo
- Essa situação não é irônica, velhote… ela é ridícula. Já lutamos tantas batalhas, e da noite para o dia somos vistos como traidores. Tudo por causa daquela maldita Deusa da Natureza ao qual Khanmarue começou a prestar culto… - falou Rose
- Ah, certamente ele tem um ódio especial por você e estes seus poderes… você certamente não teria um destino tão incerto junto aos dois maiores generais de nosso antigo e falecido rei. Talvez fosse melhor para você se apenas profanasse o corpo dos mortos… - falou Resskaell
- Eu não tenho culpa se aquele retardado cultua a natureza como se fosse um Deus vivo… além disso, não ouse comparar minha habilidade elemental com magia negra. Me dá repulsa só de pensar numa coisa dessas… - falou Rose
O sol rapidamente se pôs, enquanto a fraqueza foi batendo o corpo cansado dos três. Mesmo no chão de pedra úmido e frio, os três adormeceram.
Durante a madrugada, enquanto ainda dormiam, sangue escorreu pela parede. De maneira rápida e silenciosa, os quatro guardas que faziam ronda frente à pequena janela foram mortos. Uma pessoa em um manto marrom, com o rosto coberto e uma lâmina ensanguentada, empurrou o corpo caído de um dos guardas e liberou a janela da cela. E ela tinha algo em suas mãos.
Resskaell rapidamente despertou de seu sono, após uma gema ser atirada em sua cabeça.
- Rose, Hugo, vejam isso…
Um pouco de luz da lua iluminava a cela. Ao acordarem, eles se depararam com chaves para as algemas em seus braços e pernas, além de uma gema vermelha e dois papéis enrolados.
Um deles foi dado à Rose, que prontamente entendeu a mensagem após eles se livrarem das algemas.
- Isso é… Resskaell, veja se você consegue remover a quarta pedra da terceira linha no chão. Veja se por acaso ela está solta… - falou Rose
Resskaell procurou no chão, e encontrou o lugar sinalizado por Rose.
- Sim. Ela está solta… e dentro dela… eu posso ver um pedaço de madeira… não… espere… é a raiz de uma grande árvore… e das grandes… - falou Resskaell
- Do lado de fora desta prisão existe uma grande árvore que dizem ter quase cem anos… parece que suas raízes chegaram bem longe… - falou Hugo
- E o chão é de pura pedra. Vocês entendem o que isso significa, não é? - falou Rose
- Sim, eu vi a gema que te entreguei em mãos… e não é à toa que Khanmarue te odeia tanto… - falou Resskaell
- Ah, a vida é algo tão precioso… você pode tirá-la de alguém, mas ninguém pode devolvê-la a ninguém… - falou Hugo
- Não, ninguém pode dá-la a alguém… mas eu posso transformá-la… ao meu modo, é claro… - falou Rose
Ela segurou a gema em uma das mãos, e na outra segurou a raiz da árvore. Rose sussurrou diversas palavras, e enquanto concentrava sua mana, a rocha do chão e das paredes da prisão tomaram a forma de um golem.
Não foi o processo mais rápido, nem o mais silencioso. Mas agora já não havia nenhuma parede os prendendo. E ao terminar, o golem ganhou braços e pernas, além de ganhar uma vida temporariamente. Do outro lado, porém, a grande e majestosa árvore estava completamente seca. Toda sua energia vital havia sido drenada para o golem.
- È como você falou, ninguém cria vida a partir do nada, não é Hugo? Agora vamos, nesse outro papel tem um mapa de onde deveremos ir… - falou Rose
- Dessa vez eu lidero.Eu sei que você é forte, mas não acho que este golem irá atrasar os soldados por muito tempo… além disso, eu não sei quem nos libertou ou quais suas reais intenções para conosco...



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